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domingo, 5 de maio de 2019

Governo libanês se reúne com a Associação Comercial de SP para discutir livre-comércio com o Mercosul

Nascido no Brasil, Hassan Abd al-Rahim Mourad deixou o País aos três anos de idade rumo ao Líbano, terra natal de sua família. Filho de político, seguiu a mesma trajetória do pai e, em janeiro deste ano, foi nomeado ministro de Comércio Exterior do país árabe. Na última quinta-feira (3/5), em visita oficial como representante do governo libanês, participou de um encontro na Associação Comercial de São Paulo (ACSP) em busca de apoio para um acordo de livre-comércio entre Líbano e Mercosul.

“Estamos aqui para bater em portas brasileiras e renovar as negociações para um acordo com o Mercosul. Precisamos de todo o apoio possível”, afirmou Mourad, que tem feito um verdadeiro roadshow junto a entidades empresariais, na esperança de que elas reforcem com o governo brasileiro a importância do acordo.

A ideia de um tratado de livre-comércio entre Líbano e Mercosul começou em 2010, quando o então senador e membro do Parlamento do Mercosul e atual presidente da ACSP, Alfredo Cotait Neto, apresentou uma moção para que o assunto começasse a ser discutido. Na época, porém, o maior obstáculo vinha justamente do governo libanês, que não via vantagens no negócio.
“Esse processo veio caminhando e encontramos algumas barreiras. Entre elas, a dificuldade do Líbano entender esse processo. Isso está parado desde 2015, após algumas reuniões e a formalização de um MOU [memorando de entendimento entre as duas partes], mas está paralisado. Agora temos no Líbano um ministro que nasceu no Brasil e que está disposto a fazer com que esse acordo siga em frente”, declarou Cotait.

E com razão. Durante todo o encontro, os emissários do governo libanês foram enfáticos ao ressaltarem sua disposição para que o acordo de livre-comércio saia do papel o mais rapidamente possível. “Se não fosse intenção do governo libanês de negociar com o Mercosul, não estaríamos aqui”, reforçou ainda mais o cônsul-geral do Líbano em São Paulo, Rudy El Azzi, que revelou ainda que as representações diplomáticas do Líbano nos outros três países que compõem o bloco sul-americano estão atuando em conjunto para concretizar a iniciativa em tempo hábil. “Não queremos ter o apoio de um país e depois perder o de outro”, disse.

O problema é que se antes era o governo libanês que bloqueava as negociações, agora o empecilho se encontra do outro lado da mesa. Para começar, a prioridade atual do Mercosul é o acordo de livre-comércio com a União Europeia – não com o Líbano, uma nação pequena, de apenas seis milhões de pessoas.

Além disso, ainda há ressentimentos por parte de alguns países devido às negativas iniciais do governo libanês, na época em que a ideia começou a ser discutida, lá em 2010. Argentina e Paraguai, em especial, têm feito jogo duro com Beirute nas tratativas mais recentes do acordo. “A relutância do Líbano em continuar o processo de uma via rápida com o Mercosul encerrou as negociações por um longo período de tempo. Agora, a única coisa que precisamos, com apoio do Brasil, é convencer a Argentina e o Paraguai a trazer de volta a questão libanesa para a mesa de negociação. Porque, uma vez de volta, vamos trabalhar em ritmo acelerado”, afirmou Mireille Choufani, assessora ministerial para assuntos de comércio exterior do Líbano. De acordo com ela, o fato de o Brasil assumir a presidência rotativa do Mercosul, em julho, ajudará a adiantar com as tratativas.

Um dos principais entraves relatados pela delegação libanesa é a exigência da Argentina em relação à origem dos produtos vindos do Líbano. A nação hermana pleiteia que esses produtos sejam 100% produzidos no país de origem, o que na prática é inviável. “Mesmo na produção agrícola, há muitas coisas que nós simplesmente não temos. E se a União Europeia está aceitando os 40%, eu não entendo. A Argentina está sendo muito rigorosa em relação a isso e entendemos que esse é um ponto de impasse, porque não vamos atingir 100% de produção no Líbano nunca”, disse Choufani, que ainda falou sobre outro obstáculo: o fato do Líbano não fazer parte da Organização Mundial do Comércio (OMC). “Como não integramos a OMC, eles acham que não podemos ter todos os privilégios. Mas fizemos um estudo com o Ministério e creio que temos como estar com o Mercosul, mesmo que não estejamos com a OMC”, enfatizou o assessor ministerial.

Laços Brasil e Líbano

Embora o ministério de Comércio Exterior do Líbano esteja no Brasil para pedir apoio ao governo e aos empresários brasileiros – muitos deles de descendência libanesa – para um acordo de livre-comércio com o Mercosul, Mourad sabe que o Brasil seria o mais beneficiado de todos. Enquanto o Brasil exporta anualmente cerca de USD 270 milhões para o Líbano, as importações são de apenas USD 28 milhões, aproximadamente, de acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

“Nós nunca vamos ter uma relação comercial balanceada com o Brasil. É impossível. Mas esse acordo é importante para nos conectarmos com o povo libanês aqui e no Mercosul, especialmente com a terceira, quarta e quinta gerações”, disse o ministro Mourad, pedindo novamente apoio para que a ACSP converse com Brasília para que as conversas de livre-comércio sejam aceleradas. Embora tenha saído do Brasil aos três anos de idade, Mourad não é um desconhecido dos trâmites tupiniquins: além de falar português fluentemente, mantém negócios privados no País, visitando-o duas vezes por ano.

“Sabemos que nossos produtos sempre vão ser mais caros que os paraguaios ou argentinos. Não estamos aqui para competir, só queremos dar uma opção nas prateleiras para a comunidade libanesa”, reafirmou. Estimativas do Itamaraty dão conta de que existam de 7 a 10 milhões de libaneses e descendentes vivendo Brasil, o que justificaria a atenção especial que o governo Libanês vem dando a essa questão. Ainda que o déficit com o Brasil aumente na eventualidade de um acordo de livre-comércio, devido às facilidades de importação e exportação, o governo libanês acredita que a medida trará benefícios para sua economia e, obviamente, para as relações culturais entre as duas nações, expandindo a pauta comercial que existe entre elas, hoje muito centralizada em itens com azeitona, vinho, azeite, castanhas, geleias, enlatados e condimentos (zaatar, tahine e babaganuche).

Além disso, Mourad também apresentou a possibilidade de que o Líbano sirva como hub de comércio exterior para os produtos sul-americanos, sendo estes posteriormente destinados a outros países do Levante (em especial Síria, Iraque e Jordânia), para a Ásia e para a África.


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