“Mordeu? Vai pro quarto escuro
com o lobo mau”
Ao
explicitar a sua tática, o ex-jogador
Ronaldo Fenômeno traz à tona o despreparo
de alguns pais na hora de educar os filhos
Ronaldo Fenômeno traz à tona o despreparo
de alguns pais na hora de educar os filhos
A punição aplicada pela FIFA ao jogador
do Uruguai, Luis Suárez, por morder
um zagueiro italiano pode ou não fazer sentido dependendo da
interpretação. Mas o desdobramento do caso revela que a deseducação não é
exclusividade dos atletas. Ela também impera nos bastidores da Copa, entre os
famosos. É o que fica evidente no comentário que o ex-jogador Ronaldo fez sobre
o assunto: “Sei que mordida dói. Minhas filhas pequenas mordiam até pouco
tempo e eu punia: quarto escuro com lobo mau”.
Que os fãs do Fenômeno com filhos na primeira infância não levem o conselho a
sério, pois os desdobramentos podem ser catastróficos.
“Colocar uma criança num quarto escuro
não a faz refletir sobre o seu ato”, comenta a psicóloga clínica Ana Cássia
Maturano. “Sem contar que você, adulto, continua agindo na esfera da
agressividade e isso é um péssimo exemplo”. E que dizer da combinação quarto
escuro com lobo mau? “É algo que deve ser aterrorizante para uma criança”, diz
Ana Cássia. “Você apenas reforça o medo natural que elas já sentem por terem um
pensamento fantasioso”.
Com relação ao ato de morder, a despeito
de ser algo realmente estranho partindo de um adulto, entre os pequenos é
absolutamente normal. “Quando os pequenos descobrem o poder dos dentes acabam
usando, seja para agredir ou despertar a atenção. É uma forma de se expressar,
considerada até normal, nada inusitado”, explica a psicopedagoga Cynthia
Wood. “O papel do adulto é mostrar que isso não se faz, sem jamais
reprimi-la com punição e violência”.
Punições, como a que fez
Ronaldo, podem trazer prejuízos tanto para os pais como para as crianças. “Colocar
num quarto escuro e dizer que o lobo mau está lá é uma tortura emocional”,
alerta a psicóloga Maria Rocha, coordenadora pedagógica do colégio Ápice de
Educação Infantil, localizado no bairro do Morumbi, em São Paulo. Segundo a
especialista, “uma criança que fica trancada em um
quarto escuro pode criar um trauma e levá-lo para a vida toda”. Isso para não
dizer do risco da quebra de confiança nos pais, figuras especiais em quem os
pequenos confiam acima de tudo. “Ela pode, inclusive, deixar de confiar neles e
não é difícil imaginar as conseqüências disso”, diz Maria Rocha.
E como agir nas situações
em que as crianças mordem? “Os pais devem explicar que existem regras na vida e
que ela não pode fazer aquilo. Caso a criança tenha mordido um colega porque
não quis dividir o brinquedo, o melhor é tirar o brinquedo dela, guardar e
explicar que é preciso saber dividir”, ensina Cynthia Wood.
Segundo Maria Rocha, também
é importante cuidar para não estimular que o filho morda. “Não se deve ficar
falando sobre o assunto, pois isso pode alimentar um comportamento negativo e a
criança pode acabar mordendo apenas para chamar a atenção”.