Fotografo ítalo-suíço radicado no Brasil apresenta cerca de 50 trabalhos produzidos nos últimos 10 anos
Ao ver o conjunto de cerca de 50 trabalhos produzidos entre 2002 e 2012 pelo artista Maurizio Mancioli, o visitante se depara de imediato com uma pressuposta aleatoriedade, que não só provoca, como também confronta o espectador com a escolha - proposital ou não - de vários elementos, lugares e ‘assuntos’ fotografados por Mancioli em várias viagens pelo mundo. A maioria das obras são fotografias, mas também há pinturas, desenhos e objetos registrados em situações – algumas bem inusitadas - nas quais a realidade é confrontada e deslocada para adquirir novas poéticas e simbolismos. São fotografias que, mesmo quando se utilizam do humor, não deixam de provocar uma certa inquietação. A curadoria da mostra é do também artista e curador independente Jurandy Valença, que realiza anualmente com Mancioli a mostra PARAHAUS, que este ano entra em sua terceira edição. Na abertura haverá performance inédita da artista convidada Ana Montenegro, realizada dentro de um Acquabox, grande aquário humano, também criação do artista.
Mais que um fotógrafo que produz fotografias, Mancioli é um artista visual que se utiliza do meio fotográfico para criar imagens. Para ele, a foto em si é um instrumento técnico e simbólico que se apropria do uso da metáfora, da colagem, do agrupamento e da repetição para resultar em imagens que assumem suas características próprias, mas que por outro lado também estabelecem ambigüidades e tensões. Em seu trabalho, a fotografia assume o papel de ser um instrumento que está sempre em um processo que estabelece um tipo de jogo de relações entre o bidimensional e o tridimensional. Maurizio Mancioli insere em suas fotografias um caráter objetual, um dado icônico bruto, que elege a fotografia como meio não apenas documental, mas também como espaços, lugares e situações. Algumas de suas imagens parecem ter uma espécie de dupla vontade; de ser fotografia e de ser escultura. A foto aqui não é apenas uma imagem, mas também um objeto, uma realidade física que pode ser tridimensional, ter matéria, volume. É como se o artista criasse um espaço de libertação da materialidade da obra através da fotografia.
Em seus registros fotográficos o sujeito, ‘o assunto’ registrado nunca é destituído de sua banalidade comum, sejam animais, máquinas, reflexos, flores, paisagens, objetos ou pessoas. Não há ambigüidades. Uma vaca ou um circo, por exemplo, continuam sendo o que são. Ao escolher a palavra “dissidente” como título de sua mostra individual, Mancioli não está falando da dissidência política, do ato de discordar de um poder instituído (ou constituído), seja por intermédio de uma decisão coletiva ou individual. Sua ‘dissidência’ está relacionada ao fato da sua própria natureza errante, de ser um estrangeiro sempre em deslocamento. Maurizio Mancioli usa a memória para ver, enquadrar com perfeição e capturar com suas imagens a passagem, o tempo; a sua própria desterritorialização. Em suas imagens reverberam a frase de Montaigne; “Eu não observo a paisagem, eu observo a passagem”.
Biografia:
Ítalo-suíço, radicado no Brasil desde 1994, Maurizio Mancioli, tem formação acadêmica na área de administração de empresas (bacharelado e MBA). Foi co-fundador da BSP-Business School São Paulo, da Career Center, e atualmente da BSP Career (www.bspcareer.com.br), onde atua como consultor e professor. Atualmente dedica-se às artes visuais, principalmente a fotografia. Tem participado de mostras individuais e coletivas em museus e galerias no Brasil e no exterior, entre elas a Funarte-SP, MAM-Rio, Palácio do Governo de São Paulo e Gallerie Roch, na Suíça. Também é o criador do Acquabox, uma nova convergência de arte, design, e bem-estar (www.acquabox.com), além de anfitrião e co-curador da mostra PARAHAUS (www.parahaus.com ), que este ano terá sua terceira edição.
FOTOS: