Cresceram 620% as matrículas de alunos jovens e adultos portadores de deficiência visual no Brasil comparadas a 1998, de acordo com Censo Escolar de 2008 publicado pelo Inep/MEC no final do ano. Em 1998, eram 8.963 estudantes, sem segmentação por deficiência. Já em 2008, foram registradas 55.915 matrículas, das quais 4.604 de alunos cegos e 51.311 de estudantes com baixa visão.
Em 2009, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) divulgou que 30% das crianças em idade escolar apresentavam problemas de refração no Brasil, o que equivale a dizer que oito milhões de estudantes entre 7 e 14 anos de idade passam por dificuldades visuais para aprender.
Para a oftalmopediatra do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB), Dorotéia Matsuura, muitas crianças, principalmente no início da idade escolar, apresentam problemas de visão não diagnosticados. "Pais e professores devem ficar atentos aos sinais de que a visão das crianças tem problemas. O aluno que não enxerga bem tem uma limitação de aprendizado", alerta.
Populações - De acordo com o levantamento do CBO, a menor prevalência da cegueira infantil em países desenvolvidos é de até 0,3 por mil crianças. Este número se torna mais preocupante nos países em desenvolvimento, onde alcança a proporção de 1,5 por mil crianças. No Brasil, a estimativa é de que 30% das crianças entre zero e 15 anos de idade sejam portadoras de cegueira, cerca de 54 milhões de habitantes.
Mas com os recursos médicos existentes atualmente, já é possível tratar pelo menos 60% das causas que levam a ao comprometimento visual, conclui o estudo da entidade que integra o programa governamental Olhar Brasil.
Causas x Tempo- Segundo Dorotéia, as principais causas de cegueira infantil são distrofia retiniana, catarata, aniridia, albinismo, ambliopia, deficiência de vitamina A, sarampo, meningite, oftalmia neonatal, rubéola, toxoplasmose. Entre as causas evitáveis estão, por exemplo, as doenças infecciosas e a retinopatia da prematuridade, bem como a ambliopia (olho preguiçoso). As causas tratáveis decorrem de ocorrências de catarata congênita ou infantil, glaucoma congênito e alguns tipos de retinopatia da prematuridade.
Em avaliação geral, oftalmologistas acreditam que cerca de 50% das crianças cegas no mundo chegaram a esse estágio por não tratarem em tempo as causas evitáveis.
Regionalização - No Censo de 2008, a região Nordeste apresentou o maior crescimento de matrículas de alunos portadores de deficiência visual. Foram 1.600% de matrículas feitas a mais no período de 10 anos. Eram 1.362 estudantes em 1998, passados 10 anos, o volume é de 22.945 matriculados com deficiência visual. Já no Sudeste brasileiro, o crescimento das matrículas neste segmento educacional foi de 665% no mesmo período. O volume de alunos saiu de 2.934 em 98 para 19.523 em 2008.
A região Norte registrou crescimento de 470%, saindo de 1.025 alunos com deficiência visual em 1998 para 4.825 em 2008. No Centro-oeste, o salto foi de 415%. Na região da capital do País, os 651 estudantes com deficiência visual matriculados em 1998 passaram a ser 2.706 no último Censo. Já os estados da região Sul tiveram um aumento de 197% entre esses alunos. Com 2.991 alunos em situação de cegueira ou baixa visão matriculados em 1998 a região mostrou em 2008, um contingente de 5.916.
Baixa visão - A oftalmologista do HOB explica que os principais problemas de baixa visão em estudantes estão relacionados aos erros refrativos, defeitos de qualidade de visão como a miopia, hipermetropia e astigmatismo e se manifestam exatamente nos primeiros anos de escola. "A miopia é a dificuldade de enxergar de longe. O olho do míope é longo e a imagem se forma antes da retina. Já a hipermetropia é a dificuldade de enxergar de perto já que o olho é pequeno e a imagem se forma depois da retina. E o astigmatismo ocorre quando a visão fica embaçada, com mais de um ponto de foco. Não se vê bem o que está na vertical ou na horizontal", explica Dorotéia.
Outra irregularidade visual que pode afetar o aprendizado e, esta tem prazo para ser corrigida, é a ambliopia, chamada também de "olho preguiçoso".
A ambliopia, de acordo com a oftalmologista, pode ser ocasionada pelo estrabismo nos primeiros anos de vida, pela anisometropia (diferença de grau entre os olhos), pela catarata e por outras doenças oculares congênitas.
O tratamento da ambliopia deve ser realizado o mais precoce possível, pois em torno dos 6 a 7 anos de idade a visão já está estabelecida e qualquer estímulo para recuperar a visão após esta idade tem poucos resultados. O tratamento cirúrgico, necessário em alguns casos, é realizado somente após a busca da recuperação da visão, quando os dois olhos estiverem com boa visão para a criança. "A correção estética não é o mais urgente", comenta a médica ao aconselhar que o primeiro exame oftalmológico seja realizado antes dos três anos idade.
Como identificar - Dorotéia Matsuura conta que as crianças que têm deficiências visuais normalmente são agitadas em sala de aula, não conseguem se concentrar e chegam bem perto do quadro ou do livro para poder enxergar. "O mal rendimento em sala de aula pode ser um sinal de que algo não vai bem com a visão da criança. Muitas vezes a criança já é estigmatizada como desinteressada, mas, na verdade sofre com problemas de refração, como miopia, hipermetropia ou astigmatismo, por exemplo".
Outro comportamento frequente entre crianças em idade de alfabetização é a troca de letras. "É muito comum crianças com baixa visão confundirem as vogais cursivas fechadas como a e o ou consoantes semelhantes como o q/g ou m/n".
Já no caso da ambliopia, a situação é controversa, porque é justamente na idade limite para o tratamento (entre os 6 e os 7 anos de idade) que a criança dá sinais mais evidentes do problema. É quando vai para a escola, iniciando o período de alfabetização que aparecem as primeiras mostras dessa dificuldade visual. Dorotéia aconselha aos pais realizarem o primeiro exame de acuidade visual a partir dos dois anos de idade, quando ainda é possível fazer o tratamento da ambliopia com sucesso.
A oftalmologista enumera como principais indícios de problemas oculares nas crianças:
• Mal rendimento em sala de aula;
• Confusão de letras;
• Lacrimejamento excessivo;
• Dificuldade de ler o que está no quadro;
• Coceira nos olhos;
• Vermelhidão ocular.
Site do Censo Escolar: http://www.inep.gov.br/basica/censo/Escolar/Sinopse/sinopse.asp