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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Por que é tão difícil para o homem aceitar o diagnóstico de infertilidade?

Durante muito tempo, os “problemas para engravidar” foram todos atribuídos às mulheres e só recentemente passaram a fazer parte do universo masculino.

Estatísticas mundiais a respeito da infertilidade mostram que mais ou menos 15% dos casais que desejam engravidar apresentam algum tipo de problema de infertilidade. Durante muito tempo, os “problemas para engravidar” foram todos atribuídos às mulheres e só recentemente passaram a fazer parte do universo masculino. “Atualmente, a conduta mais adotada, diante de um quadro de infertilidade, é encaminhar o casal para avaliação. A dificuldade pode estar tanto num, quanto no outro, ou ainda nos dois”, afirma o ginecologista, Joji Ueno, diretor da Clínica Gera, especializada em Reprodução Humana Assistida.

Hoje, os estudos científicos mostram que varicocele, processos infecciosos e disfunções hormonais são causas reversíveis da infertilidade masculina. “Os desafios aparecem quando nos deparamos com casos clínicos de homens que não apresentam o número e a qualidade dos espermatozóides adequados. Desafiadores também são os casos de infertilidade idiopática ou de infertilidade sem causa aparente, pois, apesar de homem e mulher preencherem totalmente as condições necessárias para a gravidez, ela não acontece”, diz Joji Ueno, Doutor em Ginecologia pela Faculdade de Medicina da USP.

A infertilidade masculinaPara ser fértil, o homem necessita ter espermatozóides em grande quantidade - mais de 20 milhões por mililitro - e com grande motilidade, pois estes têm de ser capazes de percorrer a vagina e chegar ao útero para fertilizar o óvulo. Assim, o primeiro passo para o diagnóstico correto, no caso dos homens, é o exame de espermograma, que irá apresentar uma análise do sêmen e dos espermatozóides quanto à sua forma, quantidade e movimentação. A avaliação diagnóstica segue então "por eliminação" e costuma partir do levantamento de um histórico clínico direcionado à pesquisa das prováveis causas. Exames físicos, repetição da análise seminal e testes complementares podem ser requeridos, dependendo dos achados positivos até este ponto. "Estas etapas iniciais são importantes e conseguem identificar várias alterações capazes de interferir na fertilidade masculina, como varicocele, agenesia de canal deferente, atrofia testicular, ausência de testículo e até mesmo a presença de tumores", explica Joji Ueno.
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Problemas com o espermatozóide
A causa mais comum, e felizmente tratável, da infertilidade masculina é a varicocele, que está por trás de 35% a 40% dos casos. A doença provoca a dilatação do conjunto de veias que drenam o sangue usado pelos testículos. Neste caso, o sangue, ao invés de subir pelas veias, desce de volta aos testículos. Esse acúmulo de sangue pode causar alterações na produção e na qualidade dos espermatozóides. O diagnóstico desse desvio é feito por meio de exame físico, pois essas veias são visíveis na bolsa testicular. Já o tratamento é cirúrgico: faz-se a ligadura das veias dilatadas, interrompendo o refluxo de sangue usado para os testículos. É utilizado um microscópio para a correta identificação das veias, com o objetivo de ligá-las, sem comprometer artérias e vasos linfáticos, o que diminui as complicações pós-operatórias. “A melhora ocorre, em média, em cerca de 60% dos pacientes, resultando em gravidez em até 40% dos casais. O acompanhamento médico deve ser feito em três, seis e nove meses após a cirurgia, que é o tempo necessário para a produção de novas "safras" de espermatozóides”, informa Joji Ueno.
Há ainda a possibilidade de a infertilidade ser causada por uma interrupção do canal que leva os espermatozóides dos testículos para a vesícula seminal. Chamado de agenesia de canal deferente, este bloqueio funciona como uma espécie de "vasectomia natural", passível de correção por cirurgia.

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Como a medicina trata a infertilidade masculina?
Quando há baixa ou nenhuma concentração de espermatozóides, as causas genéticas para a esterilidade costumam ser mais freqüentes. "Neste caso, não há tratamento específico para o problema, porém, se o casal pretende engravidar, ainda existe a possibilidade de se recorrer à ajuda das técnicas de reprodução assistida", aconselha o médico.
Joji Ueno cita como exemplo a agenesia congênita bilateral dos vasos deferentes, um distúrbio determinado por uma mutação no gene causador da fibrose cística pulmonar, que implica em azoospermia, ou seja, na ausência total de espermatozóides. Para estes casos, há métodos de recuperação de espermatozóides nos testículos que podem reverter até quadros mais graves de infertilidade. "Quando o problema não é a produção, mas, sim a obstrução da saída dos espermatozóides, resgatamos os espermatozóides no epidídimo - canal que fica junto aos testículos - por aspiração com agulha fina através da pele", explica o médico.
Nos casos de azoospermia não obstrutiva, ou seja, de falhas na produção, é possível recuperar os espermatozóides diretamente nos testículos, por aspiração com agulha grossa ou por meio da retirada de pequenos fragmentos através de biópsia com mapeamento testicular. "Retiramos fragmentos de diversas áreas do testículo para identificar os locais de possível produção. Em situações em que o paciente não tem mesmo espermatozóides 'armazenados' no testículo, o casal pode contar, ainda, com a possibilidade de recorrer à doação de gametas", afirma Joi Ueno.

*Menos homem?
A notícia da infertilidade não costuma ser bem recebida nem por homens, nem por mulheres. Mas o sexo masculino parece ter mais dificuldades para aceitar o diagnóstico. “A vivência emocional da infertilidade por um homem é extremamente angustiante, uma vez que ainda vivemos em uma cultura machista, onde sinal de ‘ser macho’ é ser um ‘bom reprodutor’. Assim, a incapacidade de engravidar uma mulher pode vir associada mentalmente à falta de masculinidade ou virilidade”, afirma a Luciana Leis, psicóloga da Clínica GERA, especializada no tratamento de casais inférteis.
A associação popular entre capacidade de procriação e potência é um dos principais motivos de resistência à vasectomia em nossa cultura. “Essa associação também é responsável pela relutância que alguns homens demonstram no momento de fazer o exame de espermograma, pedido pelo médico”, diz a psicóloga.
Além disso, percebe-se que o diagnóstico de infertilidade masculina acaba por interferir de forma significativa na vida sexual dos homens, podendo-se observar falta de libido, distúrbios ejaculatórios e impotência sexual. Desta maneira, diante de um quadro emocional tão delicado, é preciso cultivar o diálogo aberto entre o casal, tentando trazer para a comunicação verbal o que ainda não conseguiu ser dito. “É necessário saber o que cada um está sentindo em relação ao problema que afeta o casal. O processo terapêutico auxilia muito a encontrar a melhor forma de expressão dos sentimentos em relação à infertilidade”, defende a psicóloga da Clínica Gera.
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